sexta-feira, 29 de agosto de 2008

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Avaliar velhos hábitos, transformá-los ou deixá-los de lado é tarefa difícil, talvez amarga, mas necessária. Quem nunca lhou com maus olhos para um vendedor que, ao informar o preço de um produto, diz: "É dé real, mais vareia, depende do tanto que o fregueis levá."? Vamos! Seja sincero! Pode responder que sim. Esse velho hábito de julgar a pessoa pela maneira como ela fala há muito nos acompanha, está em nós enraizado, faz parte de um processo cultural, passado de geração em geração. Da mesma forma que tivemos professores que corrigiam a nossa fala o tempo todo, também nós nos sentimos tentados a fazê-lo. Mas eis que surge a sociolinguística __ palavrinha mágica que veio para quebrar, ou porque não dizer, desmascarar esse velho costume que muitos insistem em negar, ou às vezes nem sabem que é errado praticar.
Segundo Marcos Bagno, para a sociolinguística é praticamente impossível falar sobre a língua de modo geral e abstrato: é preciso sempre levar em consideração as pessoas que falam essa língua, pessoas sempre inseridas em grupos sociais. O que nos leva a reflertir sobre a seguinte questão: Se a sociedade na qual o indivíduo está inserido não é homogênea, por que a língua teria que ser?
Devemos nos conscientizar e conscientizar as pessoas com as quais convivemos de que a variação linguística existe e apresenta consequências sociais. Porque pessoas que falam "bem" e "bonito" são bem aceitas pela sociedade, têm prestígio, enquanto que aquelas que não falam de acordo com a gramática padrão recebem uma avaliação negativa, chegando a serem taxadas de pouco inteligentes. Mas se analisarmos quem é que fala "mal" e quem é que fala "bem", perceberemos que não é a língua que está sendo avaliada, mas sim a pessoa que está usando a língua daquele modo. Perceberemos também que o resultado desse julgamento é o preconceito linguístico que, como toda forma de preconceito, é covardemente mascarado.
Alertar a todos que o preconceito linguístico existe e que deve ser evitado é papel da escola e não somente do professor de Português, porque as situações de comunicação ocorrem o tempo todo e em todo lugar. E esse papel da escola só será bem desempenhado quando os profissionais que nela atuam tiverem consciência da existência da variação linguística.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ao compartilhar esse texto com os colegas da escola, em coordenação coletiva, pude perceber que alguns professores não aceitam que devemos respeitar o jeito de falar do aluno. Alguns afirmam: "A escola é um ambiente de aprendizagem, não devemos permitir que o aluno fale errado."